10 de dezembro de 2008

A Educação brasileira

Alunos escrevem acho com X
E professores também erram, tem até trouxe com SS.


O ano letivo está terminando. E enquanto se discute o critério de aprovação automática, um estudo revela um festival de absurdos nas escolas. Alunos escrevem acho com x e professores, trouxe com dois esses. Alguma coisa está errada, não é não.
A professora lê a redação de um aluno da sexta série. O desafio é decifrar o que está escrito: "izo" significa isso, "infonática" para informática, e "azente" para a gente.
A professora diz que o caso não é uma exceção entre seus alunos numa escola municipal do Espírito Santo. “80% deles não têm a capacidade da leitura e da escrita e competências matemáticas para estar entre 5º e 8º série, fala a professora”, fala Wandréya Fernandes.
Ainda que as palavras estivessem escritas corretamente, alguns textos não fazem o menor sentido. Um professor de história lê outra redação: “Qualidade de ensino para mim é a qualidade para ensinar nós alunos as qualidades de aprender isso só foi ‘nóis’ falar”.
“Não tem como, não tem coesão, eles não sabem estruturar um texto mínimo possível. É o analfabeto funcional”, diz o professor Marcos Von Rondon.
“O aluno que não sabe ler e escrever, ele não vai saber interpretar um problema de matemática”, cometa Wandréia.
Uma professora de uma escola municipal do Rio de Janeiro apresentou uma pergunta de geometria. “Dou desenho, dividido em oito partes, e pergunto: cada uma destas partes representa que fração do retângulo? Ele simplesmente responde que sim. Ele não tem a compreensão do que está sendo pedido, é uma deficiência de leitura, de interpretação, que é geral,” explica Telma Alves.
Em São Paulo, os alunos que passaram pelo ensino fundamental chegaram ao ensino médio escrevendo coisas assim: certo com s; alguns com u.
Joelma Damasceno, professora de português, conta a história de um aluno. “Eu tive aluno do terceiro ano do ensino médio que se formou e depois de um ano ele voltou e me pediu para eu dar reforço. Ele falou professora eu fui fazer uma ficha numa empresa e eu fiquei meia hora olhando para a ficha. Eu só coloquei meu nome e endereço o resto eu não sabia preencher”. Numa sala da Universidade Federal do Espírito Santo. Quem estuda aqui já passou pelo ensino fundamental, ensino médio e foi aprovado no vestibular. Mas, analisando alguns textos fica a dúvida. Será que eles aprenderam a lição? Um dos alunos, por exemplo, escreveu chances com cedilha. Achar com ‘x’, consigo escrito separado. Textos de universitários.
“Eu me sinto absolutamente envergonhada e me questiono, faz sentido uma escola funcionar, existir se é para prestar um desserviço e não um serviço de ensino”, questiona Sandra Medeiros.
Um problema que não encontra limites geográficos. Na pacata cidade de Vera Cruz na Bahia, o professor de ciências João Santana enfrenta as mesmas dificuldades: “É forçar a barra um aluno desprovido desses conhecimentos básicos seja passado se série e alguém dizendo para a gente dar um jeitinho que aquele aluno não tem culpa, do ensino ser ruim e a gente joga para frente o aluno que não tem capacidade nenhuma de estar na série que está”.
“O professor está acostumado a usar a reprovação como punição, então a culpa é sempre do aluno, agora eu quero repartir a culpa, a culpa não é só do aluno, a culpa é do professor e é da direção da escola”, explica Eunice Durham, antropóloga.
Uma mãe tomou um susto quando recebeu um bilhete em que a professora escreveu trouxe, com dois "s".
Me preocupa e eu acho inadmissível quando é uma professora que está alfabetizando que escreve desta forma. “ Me preocupa e eu acho inadmissível quando é uma professora que está alfabetizando e escreve dessa forma”, diz a mãe.
Uma realidade mais freqüente do que se imagina.
“Na minha escola, um dia destes estava escrito, nós vamos falar hoje sobre o meio ambiente, ambiente com ‘h’. A professora deixou no quadro com ‘h’”, conta Soraia Sathler, pedagoga.
“É muito difícil você fazer uma revolução na educação sem você ter professores muito bem formados e nós não temos”, afirma Eunice Durham.
“Eu me sinto chocada. Todo final de ano nós temos as mesmas notícias, os alunos estão fracassando na escola eles não sabem ler e escrever”, diz Cláudia Gontijo – educadora.

Reportagem do fantástico - 07/12/08
Fonte: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL914392-15605,00.html

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