Estudantes Douglas e Taiana retornaram de Brasília nesta terça-feira (11).
Dupla venceu mais de 3 milhões de competidores de todo Brasil.
Comente agora
Ladmires (professor), Taiana (aluna), Douglas (aluno) e Simone (professora) (Foto: Caroline Holder/ G1)
Na tarde desta terça (11), desembarcaram no Aeroporto Augusto Severo,
na Grande Natal, os dois potiguares medalhistas de ouro na Olimpíada de
Língua Portuguesa, realizada em Brasília nesta segunda-feira (10). O Rio Grande do Norte foi para a final nas quatro categorias do concurso, vencendo em 'artigo de opinião' e 'poema'.
Duglas, medalha de ouro (Foto: Caroline Holder/ G1)
O poema vencedor é de autoria de Henrique Douglas de Oliveira, de 12 anos, natural de José da Penha.
Aluno da Escola Municipal Ariamiro Germano da Silva, ele contou em
verso a vida do pai vaqueiro e como a chuva é bem recebida por quem vive
no sertão. O poema 'Ôde Casa?!' fala do lugar onde Douglas cresceu. A
missão dele era passar para as rimas o cheiro, a cor, os detalhes da
zona rural onde nasceu, a 400 km da capital.
“Ele fez isso com maestria. Ele tinha que começar a olhar para o espaço
onde vivia como um turista. Para começar a enxergar com mais
sensibilidade. E conseguiu. Ele colocou muita emoção em cada estrofe.
Foi uma preparação que começou em março. Essa olimpíada promove uma
oficina em que a gente se prepara e prepara o aluno durante o ano. O
objetivo é melhorar a leitura e a escrita. E estamos no caminho certo.
Até porque, agora teremos computadores e livros”, disse Simone Bispo,
professora de Douglas.
Douglas foi recebido com festa pela família
(Foto: Caroline Holder/ G1)
(Foto: Caroline Holder/ G1)
A professora se referiu aos 10 computadores e à biblioteca que a Escola
Municipal Ariamiro Germano da Silva ganhou por ter um aluno vencedor na
Olimpíada de Língua Portuguesa, que reuniu mais de 3 milhões de
competidores, todos da rede pública de ensino.
“Agora vai ser bom demais. Vou ter uma biblioteca na escola. Vou ler
ainda mais. Eu adoro escrever e gostei muito de ser poeta. Poeta da
minha terra. Chamei o barro de tapete vermelho e a chuva de visita. E
escrevi sobre a alegria que temos quando a visita chega e molha o nosso
tapete vermelho. É a felicidade no sertão. Eu sabia que eu ia ganhar.
Tava tão confiante que nem tive medo de andar de avião. Nunca tinha
andado num transporte daquele”, lembrou Douglas.
Medalha de ouro (Foto: Caroline Holder/ G1)
O campeão também recebeu prêmios de R$ 250 em livros, um tablet, um
notebook e uma impressora. A seleção dele começou na escola, depois na
cidade e no estado. Em seguida, passou pela etapa regional, em Fortaleza, onde venceu 125 adversários. E, em Brasília, já na final, competiu com 38 estudantes de todo o país.
“É um orgulho para uma mãe que tem sete filhos, e seis abandonaram a
escola. Acho que Douglas vai ser o único a terminar os estudos. Chego a
me emocionar. Quando ele subiu lá pra receber a medalha, senti uma coisa
no peito que nem sei como falar. Isso vai incentivar o meu filho. Se
Deus quiser, ele nunca vai deixar de estudar. Vai ser grande”, comemorou
a mãe. “O pai dele não pôde vir, mas está muito feliz. Não é muito de
falar. Você sabe... é vaqueiro. Mas, ficou muito emocionado e orgulhoso
também”, completou.
Taiana e Ladmires (Foto: Caroline Holder/ G1)
Outro orgulho é a natalense Taiana Cardoso, de 17 anos, aluna da Escola
Estadual José Fernandes Machado, que fica na capital. Ela venceu na
categoria 'artigo de opinião' com o texto 'Natal:
Noiva do Sol, Amante da prostituição'. Com um tema polêmico, a
estudante usou o apelido de Natal, 'noiva do sol', para contrapor com
outra realidade da capital: o turismo sexual.
“Eu escolhi esse tema porque moro em Capim Macio, na zona Sul de Natal,
e vejo a cada esquina a prostituição. E em Ponta Negra, onde estudo,
tem ainda mais. É lá onde se concentram os hotéis e os turistas. Em
Ponta Negra estão os principais catões postais de Natal: O Morro do
Careca e o turismo sexual. Isso precisa acabar”, defendeu Taiana.
Autógrafo Taiana (Foto: Caroline Holder/ G1)
“Taiana usou argumentos fortes, refutou muito bem. Colocou muitos
argumentos de autoridade e conseguiu defender com consistência o seu
ponto de vista. Foi fruto de um trabalho de quase um ano. Desde o início
do período do ano letivo estamos envolvidos em oficinas e desenvolvendo
as habilidades dos alunos”, enfatizou Ladmires Carvalho, professor da
estudante.
AutógrafosAo desembarcarem no Aeroporto
Internacional Augusto Severo, na Grande Natal, os dois campeões deram
autógrafos. Uma das componentes da comissão julgadora, da categoria
'crônica', encontrou com a dupla no saguão e fez questão de tietar os
potiguares. “Eu não julguei as categorias deles, mas fiz questão de um
autógrafo. Eles assinaram no livro que reúne todas as produções do
concurso. É um grande orgulho conhecer pessoalmente os novos escritores
do nosso Brasil”, comemorou Ana Kaline, gerente do Banco Itaú, um dos
patrocinadores da competição.
Autógrafo Douglas (Foto: Caroline Holder/ G1)
Confira abaixo o poema e o artigo dos estudantes potiguares
Ôde casa?!
Ê, Ê, Ê... Morena
Ô, Ô, Ô... Machada
Ê, Ê, Ê... Grauno
Ô, Ô, Ô... Pelada.
Ô, Ô, Ô... Machada
Ê, Ê, Ê... Grauno
Ô, Ô, Ô... Pelada.
O vaqueiro solta a voz
No oco do mundo,
Com seu aboio dolente
Em poucos segundos,
Encanta gente e gado
“Eita” aboio profundo!
No oco do mundo,
Com seu aboio dolente
Em poucos segundos,
Encanta gente e gado
“Eita” aboio profundo!
Chapéu de couro e gibão
Luvas e peitoral,
Perneiras e sandálias
Tudo artesanal,
Ofício de meu pai
Vaqueiro magistral.
Luvas e peitoral,
Perneiras e sandálias
Tudo artesanal,
Ofício de meu pai
Vaqueiro magistral.
O sertanejo anseia
Uma visita em nossa terra,
Faz as honras da casa
E ansioso espera,
São José intercede
E o povo por ela reza.
Uma visita em nossa terra,
Faz as honras da casa
E ansioso espera,
São José intercede
E o povo por ela reza.
Quando a visita chega
Molha o tapete vermelho,
Desbota todo ele
O caminho é só lameiro,
Pra nós é festa
É festa “pros violeiro”.
Molha o tapete vermelho,
Desbota todo ele
O caminho é só lameiro,
Pra nós é festa
É festa “pros violeiro”.
Eles cantam e encantam
Aqui no nosso recanto,
Em noite de cantoria
Improvisam com seu canto,
É coisa da nossa gente
Aqui do nosso canto.
Aqui no nosso recanto,
Em noite de cantoria
Improvisam com seu canto,
É coisa da nossa gente
Aqui do nosso canto.
Sítio Gerimum
Este é o meu lugar,
Pedaço de chão resistente
Como o povo que aqui está,
Que vive sempre firme
Firme no seu caminhar.
Este é o meu lugar,
Pedaço de chão resistente
Como o povo que aqui está,
Que vive sempre firme
Firme no seu caminhar.
Meu Gerimum é com “G”
Você pode ter estranhado,
Gerimum em abundância
Aqui era plantado,
E com a letra “G”
Meu lugar foi registrado.
Você pode ter estranhado,
Gerimum em abundância
Aqui era plantado,
E com a letra “G”
Meu lugar foi registrado.
Este ano a visita
Raramente nos visitou,
Sua ausência causou tristeza
E nosso sertão chorou,
Nem as lágrimas derramadas
O chão seco molhou.
Raramente nos visitou,
Sua ausência causou tristeza
E nosso sertão chorou,
Nem as lágrimas derramadas
O chão seco molhou.
O tempo parece mudado
Mudou o verde do capim,
A brisa está mais quente
Não faz um carinho assim,
Até os passarinhos
Voaram pra longe de mim.
Mudou o verde do capim,
A brisa está mais quente
Não faz um carinho assim,
Até os passarinhos
Voaram pra longe de mim.
Espero que os bons ventos
Fluam na nossa cidade,
Visitem José da Penha
Sem nos deixar saudade,
Tragam-nos boa nova
Espalhando prosperidade.
Fluam na nossa cidade,
Visitem José da Penha
Sem nos deixar saudade,
Tragam-nos boa nova
Espalhando prosperidade.
Enquanto espero a visita
Você pode entrar,
Também é meu convidado
Pode se aproximar,
Nossa essência permanece
Sinta... Está no ar!
Você pode entrar,
Também é meu convidado
Pode se aproximar,
Nossa essência permanece
Sinta... Está no ar!
Henrique Douglas de Oliveira
Natal: Noiva do Sol, Amante da Prostituição
É evidente o motivo pelo qual a cidade do Natal, é conhecida como Noiva
do Sol. Tudo se deve às belas praias aqui existentes, ao céu quase
sempre ensolarado, ao clima quente e convidativo. O inimaginável, no
entanto, é o que se esconde à noite nessas mesmas praias: o turismo
sexual, que dá a cidade a alcunha de Amante da Prostituição.
Nas praias, às sombras dos coqueiros, há mulheres e até garotas -
pasmem - à espera de que os turistas, principalmente os estrangeiros,
venham procurá-las. Uma realidade vergonhosa não somente para os
habitantes daqui, como eu, mas para todos os brasileiros. Sendo assim, é
coerente questionar: por que a indústria do turismo sexual tem um
crescimento exponencial que desafia toda sorte de organizações, bem como
o poder público?
O prostiturismo é, muitas vezes, estimulado pela nata natalense: donos
de hotéis, de agências de turismo, de empresas de táxi, todos lucram com
a prática, chegando até a anunciá-la mundo afora. Por mais
inacreditável que pareça, os cartões-postais da cidade, agora, vão além
do Morro do Careca e, à proporção que a publicidade aumenta, crescem
também as sórdidas estatísticas, segundo uma pesquisa da UNICEF: a
exploração sexual está presente em 930 centros urbanos brasileiros dos
quais 436 são cidades nordestinas, sendo Natal a líder, paraíso do sexo
fácil.
É muito comum ouvirmos comentários de que a culpa da prostituição é das
próprias mulheres submetidas a essa vida. No entanto, dificilmente é
citada a maior causa, provavelmente, de muitas se iniciarem nessa
profissão: a sobrevivência. Uma pesquisa realizada pelo setor de
Ciências Humanas da UFRN constatou que as mais movimentadas zonas de
prazer, dentre as 29 já conhecidas pela polícia civil no município, são a
Rua do Salsa e a Av. Roberto Freire, ambas situadas em um dos bairros
mais nobres da cidade, onde boa parte dos turistas se hospeda.
André Petry, renomado jornalista, em artigo para a revista Veja,
defende a regulamentação da prestação de serviços sexuais como profissão
efetiva, dizendo ser essa a única maneira de retirar as prostitutas da
míngua. Em minha opinião, essa não é a solução mais viável, pois não
basta dar condições de trabalho a quem usa a prostituição como meio de
sobrevivência. O que deveria ser defendido era a abolição desse tipo de
serviço, posto que é visto pela maioria como algo degradante e que fere a
dignidade de quem o pratica.
Vale ressaltar, também, que tal prática se associa concomitantemente à
violência, ao uso de drogas, o que é confirmado pelos dados da pesquisa
da ASPRORN (Associação dos e das Profissionais do Sexo e Congêneres do
Rio Grande do Norte). Segundo ela, mais da metade das prostitutas
utilizam algum tipo de psicoativo, entre os quais estão o álcool, o
crack e a cocaína. Além disso, essa mesma parcela já sofreu ou infligiu
algum tipo de violência. Um dado arbitrário à ética.
Infelizmente, frente a essas circunstâncias, está o descaso de parte da
sociedade natalense e do poder público para com a problemática. Penso
que esse desinteresse se dá devido à relação direta que a cidade do
Natal tem com a indústria do turismo sexual. E, em razão do turismo ser a
principal atividade econômica da capital, o raciocínio é simples:
garotas de programa atraem visitantes que, por sua vez, injetam dinheiro
na economia.
A prostituição é um problema de ordem social e coletiva e, nesse
contexto, é preciso a formação de uma aliança entre os cidadãos
potiguares e as instituições públicas responsáveis no intuito de que
sejam elaboradas medidas que evitem a entrada de novas mulheres e jovens
nesse mercado ilícito, tais como a fundação de mais escolas técnicas,
no ímpeto de profissionalizá-las.
Outra medida a ser tomada seria a fiscalização do prostiturismo pela
polícia, além da intensificação do cumprimento das leis que combatem a
questão. Sendo assim, unidos - Estado e sociedade - possivelmente,
poderemos evitar a consolidação do título de "Amante da Prostituição" e
invalidar o dito do grande mestre Câmara Cascudo de que o potiguar só
está de acordo quando ouve ou narra anedotas.
Taiana Cardoso Novais
Fonte: http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2012/12/medalhistas-de-ouro-na-olimpiada-de-lingua-portuguesa-chegam-natal.html
Parabéns ao Professor apodiense Ladmires Carvalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário