13 de dezembro de 2012

Medalhistas de ouro na Olimpíada de Língua Portuguesa chegam a Natal

Estudantes Douglas e Taiana retornaram de Brasília nesta terça-feira (11).
Dupla venceu mais de 3 milhões de competidores de todo Brasil.

 

Caroline Holder Do G1 RN
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Ladmires (professor), Tayanna (aluna), Douglas (aluno)  e Simone (professora): vencedores (Foto: Caroline Holder/ G1)Ladmires (professor), Taiana (aluna), Douglas (aluno) e Simone (professora) (Foto: Caroline Holder/ G1)
Na tarde desta terça (11), desembarcaram no Aeroporto Augusto Severo, na Grande Natal, os dois potiguares medalhistas de ouro na Olimpíada de Língua Portuguesa, realizada em Brasília nesta segunda-feira (10). O Rio Grande do Norte foi para a final nas quatro categorias do concurso, vencendo em 'artigo de opinião' e 'poema'.
Duglas, medalha de ouro (Foto: Caroline Holder/ G1) 
Duglas, medalha de ouro (Foto: Caroline Holder/ G1)
O poema vencedor é de autoria de Henrique Douglas de Oliveira, de 12 anos, natural de José da Penha. Aluno da Escola Municipal Ariamiro Germano da Silva, ele contou em verso a vida do pai vaqueiro e como a chuva é bem recebida por quem vive no sertão. O poema 'Ôde Casa?!' fala do lugar onde Douglas cresceu. A missão dele era passar para as rimas o cheiro, a cor, os detalhes da zona rural onde nasceu, a 400 km da capital.
“Ele fez isso com maestria. Ele tinha que começar a olhar para o espaço onde vivia como um turista. Para começar a enxergar com mais sensibilidade. E conseguiu. Ele colocou muita emoção em cada estrofe. Foi uma preparação que começou em março. Essa olimpíada promove uma oficina em que a gente se prepara e prepara o aluno durante o ano. O objetivo é melhorar a leitura e a escrita. E estamos no caminho certo. Até porque, agora teremos computadores e livros”, disse Simone Bispo, professora de Douglas.
Douglas foi recebido com festa pela família (Foto: Caroline Holder/ G1) 
Douglas foi recebido com festa pela família
(Foto: Caroline Holder/ G1)
A professora se referiu aos 10 computadores e à biblioteca que a Escola Municipal Ariamiro Germano da Silva ganhou por ter um aluno vencedor na Olimpíada de Língua Portuguesa, que reuniu mais de 3 milhões de competidores, todos da rede pública de ensino.
“Agora vai ser bom demais. Vou ter uma biblioteca na escola. Vou ler ainda mais. Eu adoro escrever e gostei muito de ser poeta. Poeta da minha terra. Chamei o barro de tapete vermelho e a chuva de visita. E escrevi sobre a alegria que temos quando a visita chega e molha o nosso tapete vermelho. É a felicidade no sertão. Eu sabia que eu ia ganhar. Tava tão confiante que nem tive medo de andar de avião. Nunca tinha andado num transporte daquele”, lembrou Douglas.
Medalha de ouro (Foto: Caroline Holder/ G1) 
Medalha de ouro (Foto: Caroline Holder/ G1)
O campeão também recebeu prêmios de R$ 250 em livros, um tablet, um notebook e uma impressora. A seleção dele começou na escola, depois na cidade e no estado. Em seguida, passou pela etapa regional, em Fortaleza, onde venceu 125 adversários. E, em Brasília, já na final, competiu com 38 estudantes de todo o país.
“É um orgulho para uma mãe que tem sete filhos, e seis abandonaram a escola. Acho que Douglas vai ser o único a terminar os estudos. Chego a me emocionar. Quando ele subiu lá pra receber a medalha, senti uma coisa no peito que nem sei como falar. Isso vai incentivar o meu filho. Se Deus quiser, ele nunca vai deixar de estudar. Vai ser grande”, comemorou a mãe. “O pai dele não pôde vir, mas está muito feliz. Não é muito de falar. Você sabe... é vaqueiro. Mas, ficou muito emocionado e orgulhoso também”, completou.
Tayanna e Ladmires (Foto: Caroline Holder/ G1) 
Taiana e Ladmires (Foto: Caroline Holder/ G1)
Outro orgulho é a natalense Taiana Cardoso, de 17 anos, aluna da Escola Estadual José Fernandes Machado, que fica na capital. Ela venceu na categoria 'artigo de opinião' com o texto 'Natal: Noiva do Sol, Amante da prostituição'. Com um tema polêmico, a estudante usou o apelido de Natal, 'noiva do sol', para contrapor com outra realidade da capital: o turismo sexual.
“Eu escolhi esse tema porque moro em Capim Macio, na zona Sul de Natal, e vejo a cada esquina a prostituição. E em Ponta Negra, onde estudo, tem ainda mais. É lá onde se concentram os hotéis e os turistas. Em Ponta Negra estão os principais catões postais de Natal: O Morro do Careca e o turismo sexual. Isso precisa acabar”, defendeu Taiana.
Autógrafo Tayanna (Foto: Caroline Holder/ G1) 
Autógrafo Taiana (Foto: Caroline Holder/ G1)
“Taiana usou argumentos fortes, refutou muito bem. Colocou muitos argumentos de autoridade e conseguiu defender com consistência o seu ponto de vista. Foi fruto de um trabalho de quase um ano. Desde o início do período do ano letivo estamos envolvidos em oficinas e desenvolvendo as habilidades dos alunos”, enfatizou Ladmires Carvalho, professor da estudante.
AutógrafosAo desembarcarem no Aeroporto Internacional Augusto Severo, na Grande Natal, os dois campeões deram autógrafos. Uma das componentes da comissão julgadora, da categoria 'crônica', encontrou com a dupla no saguão e fez questão de tietar os potiguares. “Eu não julguei as categorias deles, mas fiz questão de um autógrafo. Eles assinaram no livro que reúne todas as produções do concurso. É um grande orgulho conhecer pessoalmente os novos escritores do nosso Brasil”, comemorou Ana Kaline, gerente do Banco Itaú, um dos patrocinadores da competição.
Autógrado Douglas (Foto: Caroline Holder/ G1)Autógrafo Douglas (Foto: Caroline Holder/ G1)
 
 
Confira abaixo o poema e o artigo dos estudantes potiguares
 
Ôde casa?!

Ê, Ê, Ê... Morena
Ô, Ô, Ô... Machada
Ê, Ê, Ê... Grauno
Ô, Ô, Ô... Pelada.

O vaqueiro solta a voz
No oco do mundo,
Com seu aboio dolente
Em poucos segundos,
Encanta gente e gado
“Eita” aboio profundo!

Chapéu de couro e gibão
Luvas e peitoral,
Perneiras e sandálias
Tudo artesanal,
Ofício de meu pai
Vaqueiro magistral.

O sertanejo anseia
Uma visita em nossa terra,
Faz as honras da casa
E ansioso espera,
São José intercede
E o povo por ela reza.

Quando a visita chega
Molha o tapete vermelho,
Desbota todo ele
O caminho é só lameiro,
Pra nós é festa
É festa “pros violeiro”.

Eles cantam e encantam
Aqui no nosso recanto,
Em noite de cantoria
Improvisam com seu canto,
É coisa da nossa gente
Aqui do nosso canto.

Sítio Gerimum
Este é o meu lugar,
Pedaço de chão resistente
Como o povo que aqui está,
Que vive sempre firme
Firme no seu caminhar.

Meu Gerimum é com “G”
Você pode ter estranhado,
Gerimum em abundância
Aqui era plantado,
E com a letra “G”
Meu lugar foi registrado.

Este ano a visita
Raramente nos visitou,
Sua ausência causou tristeza
E nosso sertão chorou,
Nem as lágrimas derramadas
O chão seco molhou.

O tempo parece mudado
Mudou o verde do capim,
A brisa está mais quente
Não faz um carinho assim,
Até os passarinhos
Voaram pra longe de mim.

Espero que os bons ventos
Fluam na nossa cidade,
Visitem José da Penha
Sem nos deixar saudade,
Tragam-nos boa nova
Espalhando prosperidade.

Enquanto espero a visita
Você pode entrar,
Também é meu convidado
Pode se aproximar,
Nossa essência permanece
Sinta... Está no ar!
 
Henrique Douglas de Oliveira
 
Natal: Noiva do Sol, Amante da Prostituição

É evidente o motivo pelo qual a cidade do Natal, é conhecida como Noiva do Sol. Tudo se deve às belas praias aqui existentes, ao céu quase sempre ensolarado, ao clima quente e convidativo. O inimaginável, no entanto, é o que se esconde à noite nessas mesmas praias: o turismo sexual, que dá a cidade a alcunha de Amante da Prostituição.
Nas praias, às sombras dos coqueiros, há mulheres e até garotas - pasmem - à espera de que os turistas, principalmente os estrangeiros, venham procurá-las. Uma realidade vergonhosa não somente para os habitantes daqui, como eu, mas para todos os brasileiros. Sendo assim, é coerente questionar: por que a indústria do turismo sexual tem um crescimento exponencial que desafia toda sorte de organizações, bem como o poder público?
O prostiturismo é, muitas vezes, estimulado pela nata natalense: donos de hotéis, de agências de turismo, de empresas de táxi, todos lucram com a prática, chegando até a anunciá-la mundo afora. Por mais inacreditável que pareça, os cartões-postais da cidade, agora, vão além do Morro do Careca e, à proporção que a publicidade aumenta, crescem também as sórdidas estatísticas, segundo uma pesquisa da UNICEF: a exploração sexual está presente em 930 centros urbanos brasileiros dos quais 436 são cidades nordestinas, sendo Natal a líder, paraíso do sexo fácil.
É muito comum ouvirmos comentários de que a culpa da prostituição é das próprias mulheres submetidas a essa vida. No entanto, dificilmente é citada a maior causa, provavelmente, de muitas se iniciarem nessa profissão: a sobrevivência. Uma pesquisa realizada pelo setor de Ciências Humanas da UFRN constatou que as mais movimentadas zonas de prazer, dentre as 29 já conhecidas pela polícia civil no município, são a Rua do Salsa e a Av. Roberto Freire, ambas situadas em um dos bairros mais nobres da cidade, onde boa parte dos turistas se hospeda.
André Petry, renomado jornalista, em artigo para a revista Veja, defende a regulamentação da prestação de serviços sexuais como profissão efetiva, dizendo ser essa a única maneira de retirar as prostitutas da míngua. Em minha opinião, essa não é a solução mais viável, pois não basta dar condições de trabalho a quem usa a prostituição como meio de sobrevivência. O que deveria ser defendido era a abolição desse tipo de serviço, posto que é visto pela maioria como algo degradante e que fere a dignidade de quem o pratica.
Vale ressaltar, também, que tal prática se associa concomitantemente à violência, ao uso de drogas, o que é confirmado pelos dados da pesquisa da ASPRORN (Associação dos e das Profissionais do Sexo e Congêneres do Rio Grande do Norte). Segundo ela, mais da metade das prostitutas utilizam algum tipo de psicoativo, entre os quais estão o álcool, o crack e a cocaína. Além disso, essa mesma parcela já sofreu ou infligiu algum tipo de violência. Um dado arbitrário à ética.
Infelizmente, frente a essas circunstâncias, está o descaso de parte da sociedade natalense e do poder público para com a problemática. Penso que esse desinteresse se dá devido à relação direta que a cidade do Natal tem com a indústria do turismo sexual. E, em razão do turismo ser a principal atividade econômica da capital, o raciocínio é simples: garotas de programa atraem visitantes que, por sua vez, injetam dinheiro na economia.
A prostituição é um problema de ordem social e coletiva e, nesse contexto, é preciso a formação de uma aliança entre os cidadãos potiguares e as instituições públicas responsáveis no intuito de que sejam elaboradas medidas que evitem a entrada de novas mulheres e jovens nesse mercado ilícito, tais como a fundação de mais escolas técnicas, no ímpeto de profissionalizá-las.
Outra medida a ser tomada seria a fiscalização do prostiturismo pela polícia, além da intensificação do cumprimento das leis que combatem a questão. Sendo assim, unidos - Estado e sociedade - possivelmente, poderemos evitar a consolidação do título de "Amante da Prostituição" e invalidar o dito do grande mestre Câmara Cascudo de que o potiguar só está de acordo quando ouve ou narra anedotas.
 
Taiana Cardoso Novais
 
Fonte: http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2012/12/medalhistas-de-ouro-na-olimpiada-de-lingua-portuguesa-chegam-natal.html 

Parabéns ao Professor apodiense Ladmires Carvalho

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